A violência política atinge nossos filhos

Vivemos um momento delicado no Brasil. Forte polarização política toma conta das ruas e lares brasileiros, deixando o país dividido. Neste contexto nossas crianças se veem em meio a discussões acaloradas e nem sempre civilizadas.
Recentemente foram divulgadas duas situações que retratam bem o que vem ocorrendo. Um menino de 8 anos foi xingado e hostilizado em uma escola de inglês em São Paulo por usar uma camiseta vermelha com a bandeira da Suiça. Seus colegas diziam que ele era petista, devia ser espancado e jogado na rua. Em outra situação, uma professora de uma escola em Curitiba, ao criticar em rede social uma manifestação pró-impeachment feita por alunos, foi hostilizada por pais e pressionada de tal maneira que não lhe restou outra alternativa senão o pedido de demissão.
As escolas, como ambiente de formação de nossas crianças, devem estimular o debate e ampliar o conhecimento através da oferta de inúmeros pontos de vista sobre o mesmo tema. Além do ensino puramente técnico, deve ser espaço para o exercício da sociabilidade, da solidariedade, do respeito e da cidadania.
As crianças e jovens, por ainda estarem em formação, acabam reproduzindo, muitas vezes sem o necessário senso crítico, o que veem na televisão ou presenciam em suas casas. Não tem ainda a real dimensão das consequências de seus atos.
Os pais, como seus responsáveis legais, e em última instância como os que responderão pelos atos de seus filhos, devem fazer a mediação entre a defesa apaixonada de tal ou qual posição e o respeito à opinião contrária. Devem ensinar-lhes a convivência numa sociedade democrática, com respeito à dignidade, à diversidade e à liberdade de crença, esclarecendo que as pessoas não podem ser discriminadas ou agredidas por suas opiniões. Devem alertá-los que conduta discriminatória e violenta é tão grave que chega a ser vedada por lei, trazendo consequências tanto na esfera penal quanto na esfera cível.
As crianças e jovens de hoje serão os adultos de amanhã e os responsáveis pela condução de nosso futuro. Espera-se que neste processo de formação de personalidade possam experimentar o salutar exercício da democracia, conquistada após longos anos de ditadura militar. E possam crescer num ambiente de debates de idéias civilizado, enriquecendo o seu repertório, ampliando seus horizontes e consolidando a construção de uma sociedade onde justiça, paz, igualdade e liberdade sejam os bens maiores a serem preservados.
Helena Amazonas
Advogada Cível e Trabalhista
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Tel.: 3258-0409
Texto publicado no Jornal Centro em Foco em 22.04.2016